segunda-feira, 3 de agosto de 2009

VERSIFICAÇÃO

1. MÉTRICA

Fazer a escansão de um verso é contar o número de suas sílabas métricas, considerando o seguinte:

-só se conta até a última sílaba tônica de cada verso;
-quando acontece o encontro de uma vogal final átona com uma vogal inicial, ocorre a elisão;


Ex.: "Bri/lha/va o /sol,/ quen/te e a/ma/relo"

*contagem terminada na sílaba tônica RE.

-dois sons vocálicos:
*Final átono + átono ou tônico = com elisão!
*Final tônico + átono ou tônico = sem elisão!

-três sons vocálicos:
*Fraco + fraco + forte = elisão com os três sons

Ex.: Quen/te e a/ma/relo

*Fraco + forte + forte = elisão apenas com os dois sons primeiros

Ex.: Quen/te ou/ a/ma/relo


2. RIMA

-Quanto à semelhança de sons:
*Consoantes: semelhança total de sons, a partir da sílaba tônica das palavras que rimam. [TOTAL ou PERFEITA]

Amo a voz da tempestade.
Porque agita o coração,
E o espírito inflamado
Abre as asas no trovão! - Castro Alves


*Assoantes: semelhança na vogal tônica.
[PARCIAIS]

Não tenho nada com isso nem vem falar
Eu não consigo entender sua gica

Minha palavra cantada pode espantar
E a seus ouvidos parecer etica. - Caetano Veloso


Obs.: percebe-se a presenta de rimas perfeitas (consoantes) nas palavras "falar" e "espantar".


-Quanto à distribuição na estrofe:
*Emparelhadas, Geminadas ou Parelelas

rimas: AA/BB/CC

Ah! que véu de palidez

Da langue face na tez! - Álvares de Azevedo


*Cruzadas ou Alternadas

rimas: AB/AB

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha... - Olavo Bilac


*Intercaladas, Opostas ou Interpoladas

rimas: AB/BA

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Mostro da escuridão e da rutilância

Sofro, desde a epigênese da infância

A influência má dos signos do zodíaco. - Augusto
dos Anjos



(Augusto dos Anjos)

sábado, 18 de julho de 2009

III PARTE: FIGURAS DE LINGUAGEM


17. Apóstrofe:

Consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).

"Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!" Navio Negreiro - Castro Alves


18. Metáfora:

Consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conetivo comparativo fica subentendido.

Esta sopa levante defunto.
"Do alto do prédio ele observava as formigas gritando, correndo, pegando táxis e ônibus".
Eles eram cinco cavalos.


19. Metonímia:

Como a metáfora, consiste numa tranposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. É uma relação de continuidade, sem comparação.

*Parte pelo todo: Viveu só mais um outono. [parte do ano]
*Todo pela parte: Moram na rua Alberto Pasqualine.
*Concreto pelo abstrato: Não lhe pergunte isso, pois eles não tem cabeça para responder.
*Autor pela obra: Um Di Cavalcanti chamava a atenção dos turistas ingleses. [quadro]
*Marca pelo produto: Não gostavam de Nescafé. [chocolate em pó]


20. Catacrese:

Ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretando, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

O pé da mesa estava quebrado.
(Braço da cadeira; dente de alho...)


21. Antonomasia (pessoa) ou Perífrase (ser inanimado):

Consiste em substituir um nome por uma espressão que o identifique com facilidade.

...Os quatro rapazes de Liverpool. [The Beatles - Antonomásia]
...Capital do fumo. [Santa cruz do Sul - RS - Perífrase]


22. Sinestesia:

Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido (pelo menos dois). Muito presente no Simbolismo.

A luz crua da madrugada invadia meu quarto. [visão/gosto]

"E ao invés de achar a luz que os céus inflama
achei somente moléculas de lama
e a mosca alegre da putrifação" - Augusto dos Anjos [visão/tato/oufato]

(Augusto dos Anjos)
II PARTE: FIGURAS DE LINGUAGEM

7. Inversão ou Hipérbato:

Consiste na mudança da ordem natural dos termos da frase; muito presente no Barroco e no Arcadismo.

"De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco." Resíduos - Carlos Drummond de Andrade



8. Silepse:

Consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se sebentende, com o que está implícito; é uma concordância anormal feita com a idéia que se faz do termo e não com o próprio termo. A silepse pode ser:

*De gênero: Vossa Excelência está preocupado. [gênero masculino]
*De número: Os Lusíadas glorificou nossa literatura. [o livro]

*De pessoa: "O que me parece inexplicável é que os brasileiros pe
rsistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca". [o autor se inclui entre os brasileiros]


9. Pleonasmo:

Consiste numa redundância (proposital ou não) cuja finalidade é reforçar a mensagem. O Pleonasmo é permitido na literatura, chamado assim de Pleonasmo Literário.

Pleonasmos Literários:
"O cadáver de um defunto morto que já faleceu". - Roberto Gómez Bolaños

"E rir meu riso". - Vinícius de Morais


"Perdoa-me pelo
divino amor de Deus!".

Pleonasmos Viciosos:
Descer para baixo; subir para cima; repetir de novo; viver a vida; entrar para dentro; sair para fora...


10. Anáfora:

Consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.

"Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer". - Luiz Vaz de Camões


"
Tudo era nebuloso, tudo era confuso, tudo era escuro".


11. Antítese:


Consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido, mas de forma alguma se anulam.

"Os jardins têm
vida e morte".

"Eu queria cantar uma canção que
adormecesse os homens e acordasse as crianças". - Mario Quintana.


12. Ironia:

É a figura de linguagem que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se com isso efeito crítico ou humorístico.


"A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças". - Machado de Assis


13. Eufemismo:

Consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavisar alguma afirmação desagradável, muitas vezes associados à ironia.


"Ele enriqueceu por meios ilícitos".


14. Hipérbole:

Trata-se de exagerar uma idéia com finalidade enfá
tica. Muito usado no Barroco.

Estou morrendo de sede.

"
Me derramou na camisa
Todas as flores de abril". - Chico Buarque



15. Prosopopéia ou Personificação:

Consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.

"O jardim olhava as crianças sem dizer nada".
"As
ondas beijavam a areia da praia".


16. Gradação ou Clímax:

É a apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax).

"E se um dia hei de ser , cinza e nada [...]" - Florbela Espanca /Graduação, eufemismo e metáfora.

Florbela Espanca.

terça-feira, 23 de junho de 2009

I PARTE: FIGURAS DE LINGUAGEM


São estratégias literárias que o escritor pode aplicar no texto para conseguir um efeito determinado na interpretação do leitor. São formas de expressão mais localizadas em comparação às Funções da linguagem, que são características globais do texto. Podem relacionar-se com aspectos semântica/semânticos, fonologia/fonológicos ou sintaxe/sintáticos das palavras afetadas.



1. Aliteração:

Consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais;

Muito comum no Simbolismo;


"[...] Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.[...]" Violões que choram - Cruz e Sousa


Nesse poema, Cruz e Sousa faz uso da aliteração justamente para nos depararmos, ao ler o poema, com o som dos violões tocando sentimentalmente.


2. Assonância:

Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idêndicos;


"Na messe, que enlourece, estremece a quermesse" - Eugénio de Castro


3. Paromásia:

Consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distindos;

Muito usado no Barroco, pelo Pe. Antônio Vieira;


"Alguns com mais passos [caminhar] e outros com muitos paços [palácios]" - Pe. Antônio Vieira


4. Elipse:

Consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto, ou seja, um termo não mencionado;


"Na sala, apenas duas poltronas"


Percebe-se que a vírgula na frase está substituindo o termo "havia" ou "existia" como formalidade ou ainda o termo "tinha" na sua informalidade.


"Parei na contra-mão"


Aqui, o termo que está em elipse é o sujeito "eu" [Eu parei na contra-mão], chamado então de 'elipse do sujeito'.


" [Se] Fosse mais nova, eu casava contigo."


5. Zeugma:

Consiste na elipse de um termo que já apareceu antes;


"Eles sairão daqui às 22h30min; nós, às 22h."


A vírgula está substituindo o verbo 'sair' já mensionado na frase.


6. Polissíndeto:

Consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período;


"[...]E sob as ondas ritmadas

E sob as nuvens e os ventos

E sob as pontes e sob o sarcasmo

E sob a gosma e sob o vômito [...]" Resíduo - Carlos Drummond de Andrade


(Drummond)

domingo, 21 de junho de 2009

Conceitos de Literatura [não definição]

Nada melhor que conceituar a Literatura a partir dos seus próprios escritores com uma metalinguagem somada a uma característica de cada escritor:

"Literatura é a linguagem carregada de significado." Ezra Pound

"A distinção entre literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do verbo." Alceu A. Lima

"Literatura é ficção, é a recriação da realidade através das palavras." Faraco e Moura

“O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate.” Jean-Paul Sartre

“Literatura é a imortalidade da fala.” August Wilhelm

Logo, percebemos que o conceito de Literatura é extremamete amplo. Apesar disso, é possível enumerar certos aspectos básicos e precisos dela:

* A Literatura é uma manifestação artística.
* A linguagem é o material da Literatura, isto é, o artista literário trabalha com a palavra.
* Em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diante da realidade e das aspirações humanas.

* A Literatura trata de textos que possuem uma preocupação estética, que provoca prazer e conhecimento por seu conteúdo, forma e organização. Por ser uma expressão do homem é um bom meio de comunicação, porque explora todos as partes da linguagem.

A literatura que busca o essencial, o universal, que pode contribuir para a formação dos homens,indicando-lhes a maneira de agir,mostrar os seus prazeres,desejos e outros sentimentos.Isto ajuda o homem a se conhecer melhor.A literatura da a vida, o sentido das palavras, exemplo:

Havia um mendigo cego, onde as pessoas que passavam por ele não lhe davam quase nada, mas aí um homem fez a diferença para ele ganhar mais esmolas,trocou o cartaz que carregava com as palavras ”cego de nascença” por outro: “chegará a estação das flores e eu não a vereis”.

Com isso nota-se que simples palavras ganham sentimento.

Embora se tenha amplos significados literários, como foi dito, deve-se diferenciar o emprego genérico de seu sentido artístico e criativo, ou seja, cada texto literário apresenta uma estrutura diferente. Cada um deles faz parte de um gênero literário. A definição do gênero a que um texto pertence leva em conta sua estrutura e seu conteúdo. Modernamente temos três gêneros literários:

1. Gênero Lírico

*É subjetivo
*Predomina um "eu-poético" (a voz que expressa emoção)
*Não há consequência de fatos
*Não há personagens (não há história e enredo, logo, não há narrador)

Autopsicografia - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entender a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


2. Gênero Dramático

*Há personagens, há enredo
*Não há narrador (as rubricas o substituem)
*Mistura objetividade e subjetividade
*Os fatos desenrolam-se em um período de tempo.

Auto da Compadecida - Ariano Suassuna

MANUEL: Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus nomes, mas você pode me chamar de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele / isto é, o Encourado, o Diabo / `gosta de me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa pode persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.
A COMPADECIDA: Não, João, por que iria eu me zangar? Aquele é o versinho que Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração, um invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo.


3. Gênero Narrativo

*Há narrador (1ª e 3ª pessoa) e personagens
*Mistura objetividade e subjetividade
*Os fatos desenrolam-se em um período de tempo
*As características das personagens são dadas pelo narrador e por suas ações

-Romance: vários personagens; histórias se ligam e vão para o mesmo ponto final. Ex.: Dom Casmurro - Machado de Assis.
-Novela: várias histórias; envolve o mesmo número de personagens. Ex.: O Tempo e o Vento - Erico Verissimo.
-Conto: mini-romance.
-Crônica: breve; associação com o humor. Ex.: Crônicas de Luis Fernando Veríssimo.

-Personagens:
Protagonista: principal personagem
Secundários
Caricaturas: determina classe social; visão do autor
Personagens Tipo-humanos: sem nome. Ex.: o Tio, o Pai, a Filha mais Velha, a Comadre...

O Alienista - Machado de Assis

"As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamart, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas."